Comunicação IPF - 29/11/19
Violações dos direitos
humanos, convivência escolar, promoção e direitos da criança e adolescente,
educação permanente de trabalhadores(as) do SUAS, cultura de responsabilização.
Esses foram alguns dos temas abordados pelos palestrantes do Seminário Experiências de Educação em
Direitos Humanos no Estado de São Paulo, que aconteceu
durante todo o dia 28 de novembro de 2019, no Auditório da Defensoria Pública
de São Paulo.
O Seminário teve início com as cerimonialistas Thais Helena e Gabriele
Almeida, estudantes do Curso de Serviço Social da UNIFESP/Campus Baixada
Santista, que chamaram a apresentação cultural. Kimani e o vídeo de Everson Anderson
apresentaram o Slam, manifestação poética que denuncia as opressões e aponta
perspectivas para uma sociedade sem opressões.
A mesa de abertura foi composta pelo Coordenador
Auxiliar do Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria
Pública de São Paulo, David Quintanilha e o coordenador da Comissão de Educação
em Direitos Humanos do Condepe, Carlos Alberto. Ambos desejaram boas-vindas aos
presentes e explicaram o objetivo do Seminário: cumprir o papel de compartilhar
experiências relativas à educação em direitos humanos, por meio dos órgãos
públicos e organizações da sociedade civil.
Na sequência, o Dr. Davi Quintanilha coordenou a
análise de conjuntura feita pela Profª Drª. Eloisa Gabriel. Ela destacou que a conjuntura é desfavorável para
avançarmos e acumularmos debates sobre os direitos humanos. Por isso, a
relevância do Seminário.
“Esta conjuntura ultraliberal exige articulação entre diferentes forças
da sociedade, aquelas que estão no campo democrático, para lutar pelos direitos
sociais, políticos, ambientais, culturais e civis que ainda não foram
usurpados. Há avanços, no campo dos direitos humanos, nos últimos 30 anos, a
exemplo do ECA, LOAS. LDB, LBI, Estatuto da Igualdade racial, Lei Maria da
Penha, Lei do Feminicídio. Entretanto, os dados da desigualdade continuam
alarmantes. Por isso, que o investimento na educação em direitos humanos é um
caminho para a ampliação das possibilidades de agregar mais pessoas na disputa
política por direitos”, disse Eloisa.
O seminário trouxe a “Campanha Proteger é Garantir Direitos: Rumo aos 30
anos do ECA”. Para iniciar a contextualização, as professoras Francisca Pini e
Kelly Melatti fizeram uma breve introdução da conjuntura política dos ataques
aos direitos humanos de crianças e adolescentes e, na sequência, a professora
Aurea Fuziwara, do Movimento
pela Proteção Integral de Crianças e Adolescentes, apresentou o passo-a-passo
da Campanha, seus objetivos, temas e convocou a todos(as) para engajar-se como sujeitos estratégicos
para o debate e a difusão do ECA. Após a apresentação, a professora Francisca
Pini convidou os presentes a se manifestarem em relação à Campanha. O
representante do Projeto Guri – Sustenidos, Francisco Cesar, disse que levará a
Campanha para o seu espaço de trabalho. O professor Claudemir Viana, da ECA/USP,
manifestou apoio e disse que também adere a campanha, pois no cotidiano da
formação essa defesa já está posta. Por fim, a Profª e Pró-Reitora de Extensão e
Cultura da UNIFESP, Raiane Assumpção, disse que adere a campanha, por haver uma
Coordenadoria de Educação em Direitos Humanos, na UNIFESP e será possível um
trabalho articulado.
Thais Helena recuperou o Seminário realizado no dia 29 de agosto de
2018, pelo Condepe - Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana -, quando participaram 91 pessoas. Na ocasião os palestrantes Maria
Victoria Benevides e Eduardo Bittar, ambos professores da USP, debateram os
dados coletados do mapeamento sobre o Estado da Arte da Educação em Direitos e
destacaram das respostas, a proporção alta de entidades que desconhecem os
Direitos Humanos, a ausência da educação básica e a boa expressividade das
Universidades nas respostas, pois o Condepe enviou 53 questionários e apenas 18
instituições do Estado responderam. O professor Eduardo Bittar destacou a
sintonia do Plano Estadual de São Paulo, com o Plano Nacional e municipal de
educação em Direitos Humanos, também percebeu baixa adesão nas respostas e
algumas respostas protocolares. Ambos destacaram o significado político-social
daquele momento, para o Estado de São Paulo.
Na sequência, Gabriele Almeida convidou a Profª e Pró-Reitora de Extensão e Cultura da
UNIFESP, Raiane Assumpção, para coordenar os relatos de
experiências, que foram divididos conforme os eixos do Plano Estadual de
Educação em Direitos Humanos de São Paulo.
No Eixo Educação Básica, a Profª Sandra Fodra, coordenadora de
Mediação e Linguagem da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,
apresentou o Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar
(CONVIVA-SP), que visa identificar a vulnerabilidade de cada unidade escolar
para a implementação do Método de Melhoria de Convivência Escolar (MMCE), a fim
de garantir um ambiente harmônico no ambiente escolar e elevar os índices de
aprendizagem dos alunos.
No Eixo Educação Popular, Tatiana Roberta Martins e Talismara
Molina, da DRADS/Franca, apresentaram a experiência do Grupo de Estudos e capacitação Continuada
do(as) Trabalhadores(as) do SUAS da Região de Franca – SP (GECCATS), com
destaque para a temática da defesa dos direitos humanos, que é discutida no
grupo.
O educador social Francisco César Rodrigues
apresentou o trabalho com o Slam, um potente canal de
voz das juventudes das periferias; uma forma de arte que traz a poesia entre
outras temáticas, a denúncia sobre violação dos direitos humanos.
No Eixo
Educação Superior, Cláudia
Lago, Profª e presidente da Comissão de Direitos Humanos - ECA /USP, contou a experiência de trabalhar a educação em direitos humanos numa
universidade como a USP, a partir da atuação da Comissão de Direitos Humanos da
ECA.
A Profª Raiane Assumpção finalizou a primeira parte
dos relatos contando sobre os desafios do trabalho de educação em direitos
humanos na UNIFESP, a partir da Coordenadoria de Direitos Humanos, que tem o
papel de formação no sentido de promover uma cultura de direitos humanos, na
área da extensão e dos cursos de Pós-graduação.
No final do bloco, o microfone foi aberto ao debate. A primeira intervenção foi direcionada à Secretaria de Educação. Disse da dificuldade de problematizar direitos
humanos com as pessoas.Sua sugestão é falar de
cidadania e não de direitos humanos. A outra intervenção refletiu a concepção
de educação moral, apresentada pela representante da Educação e disse que, por
mais fundamentação apresentada, os conceitos são construídos historicamente e
lembrou que, a educação moral de 1984, excluía pessoas da sala, as ofendiam e não
havia diálogo. Em relação à exposição da DRADs de Franca, foi perguntado, mesmo não
sendo um grupo institucional, como influenciar a política de assistência social
a avançar na direção da defesa e garantia dos direitos humanos? As expositoras
fizeram suas intervenções e disseram que é um processo, as quais também
resistem em seus locais de trabalho, para ter reconhecida uma pŕaxis mais
emancipadora.
Na parte da tarde,
os relatos seguiram, primeiro com o Eixo
Educomunicação, Educação e Mídia e, depois, com o Eixo Educação do Sistema de Justiça e Segurança Pública.
O Profo
Claudemir Viana, integrante da Comissão de Educação em Direitos Humanos
representando a ECA/USP, coordenou a primeira mesa. A Profa Lucilene
Varandas, da EMEF CEU Casa Blanca, uma das coordenadoras do Projeto
Educom.Geração Cidadã, deu a palavra para as crianças, participantes do
projeto: Sara Nascimento, Luca Eduardo e Viviane, do 6º, 7º e 8º ano do
ensino fundamental respectivamente. Eles(as) contaram sua experiência no
projeto, que é uma parceria entre o Dante Alighieri, colégio particular da
cidade de São Paulo, e o CEU EMEF Casa Blanca, escola pública de educação
básica localizada no Campo Limpo.
As crianças
apresentaram as inúmeras atividades e participação durante o Projeto, com
destaque para, em 2017, a colaboração na elaboração do texto final do Plano de
Educação em Direitos Humanos do Estado de São Paulo.
Elaine Souza Santos, coordenadora Geral da
Viração e da formação em direitos humanos, para e com adolescentes e jovens, no
Brasil e na Itália, apresentou um pouco do trabalho da ONG com dois projetos: a
revista Viração, que é um produto
educomunicativo para jovens feita por jovens, e o projeto Pra Brilhar, que
trabalha com jovens gays e HSH, e busca discutir com eles as novas tecnologias
de prevenção ao HIV/Aids e debatendo sobre gênero e sexualidade e prevenção
combinada em intersecção com raça e classe.
Profo Claudemir encerrou a mesa
destacando a importância do protagonismo, da participação dos sujeitos, como
uma ação política do ato de se comunicar.
O Eixo Educação do Sistema de Justiça e
Segurança Pública foi coordenado por Vinícius Conceição Silva defensor e
coordenador auxiliar do Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da
Igualdade Racial, da Defensoria Pública, composta por Djalma Costa, do Cedeca
Interlagos e Dr. Eduardo Valério, promotor de Justiça de Direitos Humanos e
Inclusão Social.
Djalma trouxe provocações sobre a questão dos
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. Levantou
diversas questões, como pensar no adolescente do campo que não tem as mesmas
ferramentas de apoio que os adolescentes do meio urbano. Se houve avanços da
municipalização da política, a efetivação de sua execução; a falta de debate e
de ferramentas de apoio, as responsabilidades de Conselheiros, especialmente no
município de São Paulo.
Dr. Eduardo Valério fez considerações sobre o
momento atual que estamos vivendo, em especial, sobre os avanços autoritários
de exclusão de direitos. “Não conseguimos digerir a notícia da manhã, porque no
início da tarde já estamos impactados com outra”, disse. Em contrapartida,
lembrou que apesar desses retrocessos, o Seminário está discutindo os direitos
humanos, a Educação é o principal instrumento para fazer resistência nessa
conjuntura. Questionou porque está sendo tão difícil a implementação do Plano
Estadual de Educação em Direitos Humanos de São Paulo. Respondeu dizendo
“porque com isso, podemos evitar a barbárie que está acontecendo no país. Somos
1/3 da população que não concordamos com a política que está aí. E precisamos
colocar de pé o PEEDH ou seguramente caminharemos para uma situação de irreversibilidade
no estado de direito”.
Como contribuição do Ministério Público ao
Seminário, trouxe o relato da atuação diante de situações de racismo em
empresas. Em casos em que pessoas são desrespeitadas em estabelecimentos
comerciais, existem quatro possibilidades de atuação do poder público:
responsabilização criminal, indenização civil, responsabilização administrativa
da empresa (no, caso do Estado de São Paulo) e a tutela coletiva, que é como o
Ministério Público vem trabalhando. Ele destacou
a importância do inquérito civil e do compromisso de ajustamento de conduta
como instrumentos extrajudiciais. Disse que este está sendo o modelo
possível, uma interessante busca de reparação pró ativa, num processo
educativo, no caso de enfrentamento ao racismo.
Vinícius Conceição Silva encerrou a mesa
falando sobre a atuação da Defensoria Pública, por meio do Núcleo Especializado
de Defesa da Diversidade e da Igualdade Racial, em relação à educação em direitos
humanos. Deu exemplos de experiência com a questão do racismo. Disse que a
defensoria tem uma densa atuação na educação em direitos, mas não tem um
Programa de educação estruturado para todo o estado de São Paulo. Os núcleos
fazem um trabalho denso e articulado com os direitos humanos, mas há muito para
avançar.
Na sequência, o microfone ficou aberto para o
debate com a plateia. O funcionário da SAP fez uma intervenção apontando os órgãos
de estado podem avançar mais em cursos na progressão da carreira, na direção da
educação em direitos humanos. A defensoria pública comentou que existe um Curso
de Defensores Populares para as pessoas presas. Foi perguntado ao Djalma Costa,
do Cedeca Interlagos, qual a sua posição em relação à violação de correspondência
dos adolescentes privados de liberdade. Djalma foi contundente na resposta: “este
tipo de direito está presente no capitulo dos direitos fundamentais, esse tipo
de violação é grave e os defensores precisam se posicionar e acrescenta para
avançarmos no debate da educação em direitos humanos. Há órgãos que tem mais
responsabilidades, a exemplo do conselheiro que se elegeu no Condepe. É
importante estar nesses momentos de construção, para avançar na política
pública. Essa questão envolve toda a sociedade, mas há pessoas que ocupam
alguns espaços que tem maior responsabilidade pela função que assume”, concluiu.
Para encerrar o Seminário, Carlos Alberto, da
Comissão Estadual de Educação em Direitos Humanos do Condepe, e Davi
Quintanilha falaram sobre os desafios e perspectivas da Educação em Direitos
Humanos no Estado de São Paulo.
Carlos fez diversas provocações sobre como o
estado e o poder público terão a responsabilidade de aplicar o Plano Estadual
de Educação em Direitos Humanos no dia-a-dia. Como efetivar a participação
popular nos espaços, mobilizar e articular as participações.
Davi acrescentou que o Seminário de 29 de
agosto de 2018 apresentou o estado da arte da educação em direitos humanos em
São Paulo. O Seminário de hoje, trouxe, de alguma forma, a efetivação do Plano
Estadual de Educação em Direitos Humanos de São Paulo com as experiências
apresentadas. Todas as contribuições serão trabalhadas pela Comissão Estadual
de Educação em Direitos Humanos do Condepe.
O presidente do Condepe, Dimitri Sales,
encerrou o Seminário agradecendo a participação de todos e todas e afirmando a
importância dessa política para o Condepe. “O Condepe continuará envidando
esforços para avançar na implementação do Plano Estadual de Educação Em
Direitos Humanos”, finalizou.
Imagens do Seminário
Desculpe, não consigo localizar o texto final do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos do Estado de São Paulo. Faço pesquisa de mestrado sobre EDH nas educaçao pública paulista.
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